Vendo meu filho crescer

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A volta ao trabalho





Fiquei cuidando do Vladimir em casa até ele fazer 7 meses até que chegou uma hora que não era mais viável financeiramente e nem socialmente ficar por conta do Vladimir.  Quando não tinha filhos criticava as mães que terceirizavam seus filhos e achava que ficaria por conta do meu filho até os dois anos.  Mas como ser mãe é cuspir pra cima,  paguei língua!  E confesso sem nenhum peso na consciência que me senti muito bem a primeira vez que fui ao trabalho e deixei ele com minha sogra.  Sei que muitos vão pensar que sou menas porque não chorei e meu leite não ficou vazando.  Mas antes de julgarem,  eu trabalho só 3 vezes na semana e poucas horas da manhã.  Então ainda tinha o resto do dia para ficar com meu filho.

Foi libertador!  Eu era  a Meiriele novamente.  É muito importante ser você mesma.  E nos últimos seis meses eu não era. Não somos.  No instante em que o bebê nasce tudo se transforma e nos fundimos ao bebê.  E isso é extremamente necessário. Questão de sobrevivência.  Mas chegou uma hora que eu só lia, escrevia, falava e pensava em peito, fraldas e afins. Não tinha convivência social com não mães.  Ninguém aguentava mais conversar comigo.  E pior eu carregava muito culpa porque tinha que ser uma mãe excelente,  dar conta de tudo sem depender de ninguém.  E até consegui por 6 meses não depender de muita ajuda externa.  Mas o Vladimir ficou de tal forma fundido a mim que eu só conseguia comer, ir ao banheiro e tudo mais com ele no colo. Não podia respirar.  Eu me senti sufocada pela maternidade.  Por isso,  ir trabalhar foi libertador! Percebi que precisava de uma rede de apoio. O filho não era só meu, tinha pai, avós e tios que o amam tanto quanto eu.  Ao me libertar, libertei o Vladimir.  Desde os 7 meses ele fica com o pai ou as avós sem precisar mamar, nem mamadeira, e fica muito bem sem mim. Sim, eles ficam bem. Temos que confiar na capacidade de adaptação dos bebês também.

Com isso também não quero dizer que as mães que param de trabalhar para cuidar exclusivamente dos filhos estejam erradas. Embora, veja com frequência as mães reclamando da solidão, da sobrecarga de trabalho, falta de ajuda dentre outras coisas quando ficam somente por conta do bebê. A gente se fecha para o mundo, para de escutar as outras pessoas. Nos sentimos sozinhas e incompreendidas. Quando temos a liberdade de sair. Respirar um pouquinho. Voltamos para a casa renovadas e com muito mais ânimo para cuidar dos nossos filhos. Acho importante ter um tempo só para si mesma. Se sentir útil fazendo outras coisas. 

Os filhos não são nossos,  são do mundo!  Acho que a maternidade não deve ser cheia de sacrifícios e privações. Temos uma vida para além da maternidade e não precisamos abandoná- la para viver somente em função dos filhos.  Há que se buscar um equilíbrio!

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Parto: expectativa x realidade.


X


 





Olá, pessoas.

Há dias estou pensando em escrever sobre esse tema, mas ainda não tinha tido tempo para sentar e escrever com calma. O assunto é, de certa forma, polêmico.  

Durante a gestação o momento mais aguardado _ e o mais temido_ é o parto. A expectativa de conhecer nosso filho é imensa, mas o medo de alguma coisa dar errado, às vezes, é maior ainda. 
Principalmente porque, durante a gestação, aparece gente até debaixo da terra para contar alguma coisa ruim que aconteceu com uma amiga, vizinha, prima, etc. Sem contar as notícias horríveis que aparecem na televisão. 

Enfim, de um jeito ou de outro, acabamos tendo o bebê.  E, se o bebê e a mãe estão bem, ninguém fala nada sobre o parto. E o assunto, em teoria, acaba sendo esquecido. Afinal, o mais importante é o bebê e ele estando ali, nada mais importa.  Não exatamente, para a mulher que viveu a experiência do parto ou cesárea é extremamente importante falar sobre o assunto e entender o que realmente aconteceu...

A maioria das mulheres não sabem muito bem como acontece um parto. Se baseiam em cenas de filmes ou novelas que nem de longe refletem a realidade. E, por não saber o que espera, não sabem como agir na hora P.  A mulher desejou tanto um parto normal e depois de horas em trabalho de parto acabou passando por uma cesárea. Ou então, até teve um parto normal, mas teve uma episiotomia ou a médica subiu em cima da barriga dela ou alguma coisa do tipo. Enfim, a mulher se sente frustrada. Se sente incapaz de parir, no caso de cesárea, ou fica traumatizada com o parto "normal".  Muitas saem do hospital com a certeza de nunca mais ter filhos para não ter que passar por essa experiência novamente.  Conhecendo o sistema obstétrico brasileiro, sabemos que a culpa disso tudo está no despreparo dos médicos para assistir um parto e a violência com que as mulheres são tratadas, seja no SUS ou particular.

Por causa dessa frustração com o parto um grande número de mulheres tem buscado informação e optado por um parto humanizado em uma segunda (ou terceira...) gestação. Elas pesquisam, se informam bastante, participam de grupos de gestantes, leem dezenas de relatos e assistem dezenas de vídeos de parto... Ops...Agora chegou a parte polêmica. Mas vamos com calma...

Bem, como todos sabem, na minha gestação pesquisei muito li e reli relatos de parto, assisti e reassisti vários vídeos de parto. Sem contar as centenas de fotos ma-ra-vi-lho-sas! E os relatos nos blogs e páginas do face: " Fulano pariu depois de x horas em tal lugar, sem nenhuma laceração. " "Fulana teve parto natural na banheira do hospital x depois de ter passado por uma cesárea." E outras tantas frases do tipo.Tudo isso vai criando um glamour em torno do parto e a gente já começa a imaginar o parto como se fosse o nosso casamento. Vai dar tempo de passar maquiagem. Vou contratar fulano para fazer as fotos. Vou fazer a playlist do parto com essas e essa música. Vou comprar vela assim , incenso assado. Vou usar esse lençol. Esse topper. e por aí vai. Querendo ou não, pelo mal hábito da criação feminina que começa com a idealização do príncipe encantado, acabamos também idealizando o parto.

Nos relatosescritos  há sim os pormenores do parto com todos os senões, mas nas fotos e vídeos  temos "o privilégio" da edição. Os vídeos, por exemplo, mostram só o período expulsivo. Sendo que o  período crítico e o que acontece antes de chegar lá. O período expulsivo, na maioria dos casos, é a parte boa, é a linha de chegada. Os vídeos não mostram a longa trajetória. Os vídeos não mostram você evacuando na frente da equipe. A doula limpando a sua bunda. Não mostra você vomitando. Não mostra que um monte de desconhecidos ficaram várias horas vendo a sua vagina inchada. Não mostram que você gritou horrores. Pensou várias vezes em desistir. Não mostra a cara de cansado de todo mundo porque aquilo já tava demorando demais, indo madrugada a fora e ninguém comeu direito. Depois que o bebê nasce ninguém mostra a expulsão da placenta ou a  enfermeira costurando a laceração.  Nem as fotos de cesárea também mostram sua barriga aberta, a sangreira desatada  e o seu útero exposto. Claro que não! Quem quer ver isso? Claro que ninguém quer ver isso! Sem contar que para incentivar as mulheres a quererem parir, mostrar que é possível, que é lindo ninguém vai ficar mostrando as coisas ruins. A propaganda sempre mostra a parte boa.

Só que isso, assim como os filmes de comédia romântica, pode criar na gente um sentimento besta e que toda mulher sabe bem o que é: a quebra da expectativa ou, em outras palavras, frustração.

Eu, assim que o Vladimir nasceu, me senti uma leoa. Uma mulher forte. Algumas pessoas me perguntaram se eu fiquei triste porque não tinha parido na banheira. Não, não fiquei. Eu sabia que minha casa era pequena e a logística da banheira era muito trabalhosa. Então não criei expectativa nenhuma em relação a isso. Tanto que rapidinho desisti da banheira e fui pro chuveiro. O que me deixou frustrada foi ter tido laceração. Fiquei me sentido mal um tempão por causa disso, pensando que o meu parto poderia ter sido perfeito se não fosse a laceração. E fiquei remoendo, se eu tivesse isso e isso eu não teria lacerado. Tudo uma grande bobagem! Agora, depois de saber com mais detalhes sobre vários partos cujas fotos e vídeos faziam parecer que tudo tinha sido perfeito e ter feito o curso de doula, posso afirmar com convicção: meu parto foi perfeito do jeito que foi. Ele foi simples, como o parto deve ser, sem nenhuma complicação e sem nenhum glamour, apenas um parto. E isso não faz de mim nem mais nem menos mãe. 

E o que eu quero dizer com isso tudo?

Tudo tem seu lado positivo e o negativo. Divulgar os vídeos, fotos e relatos de parto humanizado é extremamente importante para emponderar as mulheres e incentivá-las a parir e mostrar são capazes! No entanto, como tantas outras coisas relativas ao feminino. Pode segregar e gerar um sentimento de culpa e frustração. Acaba gerando os grupinhos: a que teve parto normal, a que teve parto natural, a que teve cesárea, " a menas" e " a índia". Isso tudo serve para desunir as mulheres. Não precisamos disso. A sociedade patriarcal já faz isso com a gente o tempo todo! As mulheres não precisam de mais uma coisa para desuni-las e fazerem-nas se sentirem fracassadas.  Isso já tem aos montes! 
Precisamos falar sobre isso. Apesar de todas as milhares de boas intenções da luta pelo parto humanizado, o seu marketing cheio de glamour ao invés de acolher, pode segregar.  

Eu acredito que, se a mulher estava bem informada e bem assistida, ela teve o parto (ou cesárea) que precisava e/ou podia ter naquele momento. 
Precisamos lutar para que todas as mulheres tenham informação e assistência de qualidade para que todas tenham um parto simples e, o mais importante, RESPEITOSO. E não criar mais um mercado quem tem dinheiro tem vantagens e quem não tem se contenta com pouco.

Amiga, não existe parto ideal. Assim como não existe maternidade ideal. Nada nessa vida é o ideal.
Existe o real. E apesar de o real não ser como idealizamos, ele pode ser bem melhor do que imaginamos! 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Um ano de amamentação



Primeiramente, tenho que falar o quanto eu me sinto feliz por ter conseguido amamentar durante um ano e ainda estar amamentando. Em um país onde a média de amamentação é de 54 dias, quem consegue amamentar por um ano bate recorde.
Dito isto, quero deixar claro que essa postagem não é para ficar falando dos benefícios da amamentação. Sobre isso tem vários artigos na internet. Quero dar meu relato, contar minha experiência. Lembrando que é só minha opinião e não verdades absolutas. 

Apesar de ter tido parto natural domiciliar, Vladimir não mamou na primeira hora de vida. Tivemos contato pele a pele. Coloquei ele no meu peito com ajuda da equipe. Tentamos várias posições, mas ele simplesmente não quis mamar. Dormiu a noite toda, tranquilamente. Pela manhã, tentei novamente colocá-lo ao seio para mamar, sem sucesso. O danado só queria dormir. Provavelmente estava cansado e ainda tinha alguma reserva de energia. Somente às 16 horas, depois de três fraldas de mecônio, e com a ajuda das enfermeiras do Sofia ele mamou. As enfermeiras que vieram mais tarde, verificar como eu e ele estávamos após o parto, olharam se eu tinha colostro e me orientaram em relação a pega correta e outros detalhes sobre a amamentação. Vladimir enfim pegou o peito e, desde então não parou mais! 

Teria sido tudo lindo se não fossem as dores. Sim. Quando o bebê estimula o seio, no início da amamentação, sentimos contrações. Essas contrações ajudam o útero a voltar para o lugar. Essas contrações são causadas pela ocitocina ( o famoso hormônio do amor). Funciona assim: você olha para aquele serzinho lindo mamando, fica apaixonada, entupida de hormônio do amor e, como consequência, sente dor. Amor e dor andam de mãos dadas na maternidade. Tenso!

Vladimir mamou até a última gota de colostro! Passei a primeira madrugada em claro com um bebê plugado no peito. Piercing de mamilo! Como o bebê tem que fazer uma força de sucção muito grande para mamar o colostro o peito machuca. Então no início eu era um zumbi barrigudo cheio de dores na barriga e no mamilo! Que maravilha! E, nessas horas a vergonha de ficar com os peitos de fora vai embora, né. É mil vezes melhor tomar sol nos peitos para sarar logo do que ficar com o peito inchado. Então que se F* se alguém vai ver seu peito. (Isso é só o começo!)

Mas, graças a Deus, no terceiro dia Jesus ressuscita e o leite desce. Na segunda feira meu leite desceu. Vladimir já estava com a pega correta, as contrações diminuíram e a amamentação estava praticamente estabelecida.

Tenho que agradecer mil vezes não ter tido mastite, ducto entupido, peito engurgitado. Nada durante esse tempo!

Depois que o leite desce, temos que nos acostumar a sentir o peito encher, inchar e vazar. De manhã nunca dá para saber se a cama está suja de leite ou de xixi. kkkkk

Quando o sufoco da primeira semana passa e a gente se acostuma, amamentar passa a ser a melhor coisa do mundo! É muito amor! 

Mas temos que nos preparar. Deixar o lanchinho e a água no pé da cama, ter alguém para arrumar a casa e fazer comida porque nos próximos três meses o bebê mama praticamente o tempo inteiro, seja acordado ou dormindo, o menino só sabe mamar. É difícil ter um tempinho para tomar banho ou ir ao banheiro.  Claro que isso só acontece se você amamenta em livre demanda ( a hora em que o bebê quer), sem chupeta e mamadeira.

Nessas horas começam os chatos enchendo o saco com a frase: "Ele tá fazendo seu peito de chupeta!" Não meu filho. Na verdade, quando você oferece a chupeta para o seu filho, ele faz a chupeta de peito e não o contrário. Todo o tempo que o bebê passa no peito é importante para ele, seja para nutrir fisicamente ou emocionalmente. O peito é o vínculo do bebê com a mãe e com o mundo externo, é aconchego, segurança, acolhimento. Tuuuudo! 

Eu sou contra o uso de chupeta, mas não critico quem usa. Tenho amigas que usam e eu entendo perfeitamente. Eu mesma, na hora do aperto, já pensei em dar chupeta para o Vladimir. É muito desgastante amamentar em livre demanda. A gente fica louca achando que o menino nunca mais vai parar de mamar! Mas resisti porque não quero ter o trabalho de retirar a chupeta no futuro. 

E essa fase passa, como todas as outras.  O segredo é ter paciência e apoio. 

Depois dessa fase o bebê só volta a ficar plugado no peito nos períodos de crise, pico de crescimento, nascimento dos dentes, doença e angústia da separação. Eu falei só? Só é eufemismo porque esses períodos, somando, dão quase  o ano inteiro! kkkkkk Ri para não chorar! 

Sem contar que nesses períodos eles adoram mamar de madrugada. A gente fica toda torta porque não consegue mudar de posição. Não dorme direito. E vai trabalhar feito um zumbi.

Depois que eles passam a comer bem, não mamam tanto. E a medida que vão ficando maiores dá para distraí-los com outra coisa. Com o tempo o corpo regula as mamadas. O peito não fica cheio a todo momento, na verdade ele murcha (A fase siliconada dura pouco). Meus peitos murcharam depois dos 7 meses mais ou menos. Mas ainda sai leite normalmente. E ele mama muito. Aí já dá para usar uma roupinha mais bonitinha sem o peito ficar vazando...

A verdade, porém, é que amamentar é muito prático. E, nós, mães, ficamos mal acostumadas. O menino abriu a boca a gente taca o peito, afinal ele resolve tudo. Só entramos em desespero quando o menino não aceita o peito. Aí a casa cai!

Eu sofri bastante com o nascimento dos dentes. Os dois de cima quase me fizeram desmamar o Vladimir. Ele mordia meu peito. E fiquei duas semanas com o peito ferido e ele mordendo! Foi a treva! Mas também foi outra fase que passou. O quinto dente nasceu recentemente e ele não me mordeu. Como eu disse, tem que ter paciência.

Outra coisa insuportável é amamentar na tpm. Dá uma gastura, Uma irritação. A gente fica irritado, o bebê também. Um saco!

Depois do sufoco inicial. Logo, logo temos uma recompensa maravilhosa: o primeiro sorriso. Nunca vou esquecer do dia que Vladimir olhou nos meu olhos e sorriu enquanto mamava. Chorei! Foi um momento incrível e que se repetiu várias vezes! <3

Mas... de novo esse mas... Tem as manias.  As cutucadas no nariz e na boca, os tapas, os beliscões no bico do peito, as puxadas de cabelo, revezar entre um peito e outro... A medida em que vão ficando maiores os bebês não conseguem ficar com a mãozinha ociosa. Tem que ocupá-las. E a melhor maneira que eles encontram de fazer isso é batendo na sua cara!kkkkk Ou, no caso do Vladimir, beliscando o outro peito. No início eu odiava esse hábito. Tentei tirar e não consegui. Por fim, me acostumei. 

A medida que eles vão crescendo, as estratégias para amamentar aumentam. E se o objetivo deles é mamar, não tem nada que os faça mudar de ideia. O Vladimir tira minha roupa e puxa o peito na maior sem cerimônia. Mama em pé, deitado, de joelhos, de cabeça para baixo, no banho... ele só não fica sem mamar. Distraiu, viu o peito, tá mamando. Isso quando não tenta mamar nos outros também!

E aí, nessa altura do campeonato, a vergonha já foi embora há muito tempo. Nada de fraldinha tampando. Até porque o bebê arranca ela mesmo. No início eu ficava com vergonha. Agora, faço cara de alface. Imagina. Quando tem uma conversa chamando a atenção dele, ele tira o peito da boca e fica olhando ao redor e eu lá com os peitos de fora. Se eu for ficar com vergonha é pior. Então finjo que não tá acontecendo nada. E as pessoas também fingem que não estão vendo nada...

Outra coisa que para mim foi e está sendo difícil é o peso. Amamentar emagrece, ao mesmo tempo que aumenta a fome. É preciso se alimentar muito bem, afinal estamos sendo alimento de outra pessoa. Então precisamos de gordura para gente e para o bebê. No meu caso, sempre fui magrela. Perdi os quilos que ganhei com a gravidez e além. Mesmo comendo mais do que eu comia antes da gravidez, estou uma caveirinha. Isso às vezes me preocupa. Penso em desmamar. Mas se eu ainda produzo leite, então vou levando.

Enfim... Afora todo o sufoco que passamos para amamentar, sempre tem um chato para falar: "Você ainda amamenta? Ele tá muito grande. Já pode desmamar!" Blá!Blá!Blá! O que não falta nesse mundo é gente para encher o saco.  Não existe nada melhor que o leite materno para a criança. Mesmo após um ano de vida. E porque não deixar a criança desmamar naturalmente? Por que tirar o peito a força? Enquanto for bom para os dois não tem porque desmamar só porque o menino tem mais de um ano. Eu não sei quando o Vlad vai parar de mamar, por enquanto não cheguei no  meu limite. Vamos ver até onde vai dar.


quarta-feira, 24 de junho de 2015

E lá se foi um ano


Olá, pessoas.

Estou aqui olhando as fotos do Vladimir e abismada em ver como ele mudou. Como está crescido. Até outro dia era um bebezinho que eu conseguia carregar com um braço. Agora sofro para carregar com os dois. kkkk
Minha reação desde a hora em que ele veio para os meus braços ao nascer até hoje é de descrença. Nesse caso estou pior que São Tomé. Eu olho, olho para ele e não acredito que ele saiu de dentro de mim. Não acredito que ele é tão lindo e tão esperto. Sim, tenho uma toalhinha aqui do lado para limpar a baba. Sou mesmo  mega babona e mega coruja!
É tanta coisa para lembrar. O parto, o puerpério, a amamentação. Todo aquele choque de ser responsável por um ser tão frágil. O primeiro mês em que  ri e chorei e nos adaptamos, juntos, à condição de mãe e filho. O primeiro sorriso que me encheu de lágrimas. Os longos choros na hora do banho de banheira até eu descobrir o banho de chuveiro. As muitas mijadas, cagadas e acima de tudo, golfadas que eu levei. O  desenvolvimento motor: firmar a cabecinha; depois começar a sentar, rolar e cair da cama (as terríveis quedas);engatinhar e em breve andar. Os sofríveis dentinhos. A introdução alimentar e o prazer em vê-lo comer cada fruta, cada legume e carne! Os passeios no sling; andar de ônibus com bebê e mochila! Os sufocos de trocar fralda em banheiro que não tinha trocador. Os escândalos na rua para mamar. Eu passando vergonha tendo que ficar pelada na frente de todo mundo para amamentar. Muitos perrengues: cólica, crise de choro sem explicação, vacina, gripe, febre, crises e picos de crescimento, angústia da separação... Enfim, foram muitas primeiras vezes. Algumas lindas, outras difíceis. É! Esse primeiro ano foi difícil. E foi maravilhoso também! É maravilhosa  a sensação de ver um ser humano se desenvolvendo, descobrindo o mundo, se maravilhando com pequenas coisas que para nós passa desapercebido.

Teve  também sentimento de culpa. A sensação de estar fazendo tudo errado.
Mas tem também os momentos que você para e pode afirmar com certeza que fez tudo certo!

Se alguém me perguntar se valeu a pena, digo, sem pestanejar: valeu cada segundo!

Obrigada, Vladimir, por ser meio raio de sol!
Parabéns para nós dois pelo primeiro ano em que somos mãe e filho!

Retomando o blog...

Olá, pessoas!

Sentiram minha falta?
Quando Vladimir nasceu tinha resolvido não escrever mais no blog. Tanto que a última postagem foi sobre o parto.
Mas Vladimir está a alguns dias de completar um ano e eu resolvi retomar o blog. Primeiro porque tenho muitas opiniões e experiências que eu gostaria de compartilhar. E segundo porque quero deixar gravado as lembranças que eu tenho sobre o Vladimir.
Quem quiser aguentar minha chatice pode se preparar porque eu tenho muita coisa para falar. Aguardem os próximos posts!

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A espera acabou... Nascimento do Vladimir



Queria ter feito meu relato de parto no dia seguinte após o parto. Mas o tempo foi passando e eu só adiando... E lá se foram quatro meses...
Engravidei em outubro. Foi planejado, mas não imaginamos que ia acontecer tão rápido. Decidimos ter o bebê e... pimba! Duas semanas depois o teste de farmácia comprovou a gravidez!

Assim que tive a confirmação comecei a pesquisar tudo o que podia sobre gravidez. Tudo que eu descobria ia contando para meu marido. Apesar de não ter ler sobre o assunto ele prestava atenção em tudo que eu falava e foi em todas as reuniões comigo. Hoje ele é mais ativista que eu. Fala de parto natural para toda grávida que ele vê! Kkkk

Eu já acompanhava um blog no yahoo (mãe de salto alto) e tinha lido um post sobre parto humanizado. Eu tinha certeza que queria um parto normal, pois minha mãe tinha tido seis partos normais. Morria de medo da cesárea. Mas até então, parto humanizado para mim era ter o bebê na água. Sabe de nada, inocente! Nas minhas pesquisas encontrei o blog do Ishtar. Já me identifiquei só de ver o nome, pois gosto de mitologia e já tinha lido sobre essa deusa. Comecei a acompanhar o grupo no yahoo e depois no facebook.

 Mas só pude ir à primeira reunião em janeiro. Engraçado que tinha procurado sobre doulas e, coincidentemente, vi o perfil da Helena em um dos blogs.Quando fui a primeira reunião, lá estava ela coordenando e o tema era justamente acompanhantes para o parto. Naquele dia decidi que ela seria minha doula!

Antes de conhecer o Ishtar quase caí na lábia dos cesaristas do Santa Fé naquele famoso curso de gestantes. Ainda bem que escapei!!! Como todo mundo, comecei a fazer o pré-natal particular. Mas depois fui para o SUS. Eu queria o sis para fazer o pré-natal no Sofia, mas como as coisas em Ribeirão das Neves são lentas tive que esperar para conseguir o número e acabei fazendo quase todo pré-natal no posto mesmo. Minha gravidez foi bem tranquila. Participei de várias reuniões e chás de bênçãos, estudei muito sobre parto e curti bastante a gravidez.

Lá pelo meio da gestação começou a brotar a vontade de um parto domiciliar. Eram tantas histórias lindas de parto domiciliar... Eu acho que não me sentiria confortável no hospital. Eu ODEIO médico. Sério! Nunca dei certo com nenhum.  Já consultei com uns 8 ginecologistas e só dei certo com uma, mas infelizmente ela se aposentou. L  Mas até irmos visitar o Sofia o PD era uma possibilidade distante. Meu marido achava que nunca poderíamos ter um parto em casa, pois nossa casa é muita pequena e não tínhamos dinheiro para pagar uma equipe. Foi na visita ao Sofia que conhecemos a equipe e a vontade cresceu. Até meu marido se empolgou com a ideia! Mas a casa era um empecilho. Foram cinco semanas conflitantes para mim. Meu marido queria que o PD fosse na casa da minha mãe, minha mãe e meus irmãos estavam morrendo de medo que alguma coisa acontecesse comigo no parto domiciliar e aí foi aquele mal estar. Conversei com a Kalu, com a Helena pedindo opinião até resolver que eu teria o PD na minha casa mesmo e pronto. Meu marido vendo que eu estava decidida, apoiou. Nossas famílias estavam com medo, mas não falaram mais no assunto. Tenho certeza que minha mãe orou o tempo todo por mim! Voltei no Sofia para conversar com a equipe. No dia não havia nenhuma das enfermeiras lá, mas me passaram o telefone da Sintia. Liguei e conversamos. Ela me disse que talvez não fosse possível porque na minha dpp parte da equipe estaria de férias. Ela ficou de conversar com a coordenadora da equipe para ver se poderia me encaixar. Nesse dia quase desisti do PD achando que não ia conseguir. Alguns dias depois, a Sintia me ligou dizendo que elas iriam me acompanhar. Depois disso ainda teve a saga do estreptococos. Eu não descansei enquanto o resultado não saiu. Fiquei tão feliz quando deu negativo!!!!

Comecei a fazer o pré-natal com a equipe de PD com 35 semanas. Que diferença! As meninas são ótimas, eu me senti muito à vontade com elas! Fazer pré-natal com enfermeiras é muito melhor do que com médico!!!Fiz os preparativos finais para o parto a partir das 37 semanas. Passei a fazer as terapias integrativas do Hospital Sofia Feldman que acabaram com as minhas dores e reduziu muito minha ansiedade.  Terminei meu plano de parto. Fui fazendo a playlist do parto e comprando as coisas que faltavam. Com 38 semanas comecei a sentir as primeiras contrações, ainda indolores e irregulares. No dia 13 de junho cheguei a sentir contrações com cólicas de 10 em 10 minutos, mas elas duraram apenas 1 hora.  Eu sabia que o bebê não iria se antecipar. Minha intuição dizia que ele nasceria no dia 29 de junho... Com 38 semanas uma amiga se ofereceu para tirar as fotos. Foi um presente inesperado que me deixou muito feliz!Com 39 semanas tive o chá de bênçãos. Foi um chá bem intimista, apenas a doula, meu marido, eu e mais um casal. Mesmo com tão poucas pessoas, foi um chá muito especial e eu me sentia muito feliz. Tinha escrito no blog uma carta para meu bebê e escrito no meu diário pessoal todos os medos que eu tinha. Fiz isso para exorcizar todos os medos e limpar a minha mente. Queria entrar em TP livre, leve e solta...

No dia 26 de junho fui à faculdade tirar as fotos para o convite de formatura. Durante o trajeto para a faculdade percebi que as contrações estavam ritmadas, de 10 em 10 minutos. Fiquei feliz, sabia que estava próximo. Revi minhas amigas. Todo mundo perguntando para quando era o bebê. E eu respondendo: em teoria hoje. De acordo com a DUM, ele deveria nascer naquele dia. Contei para meu marido e ficamos a postos. Estávamos bem tranquilos. Fui dormir sentindo as contrações e às 2h da madrugada, acordei sentindo cólicas. Levantei fui fazer um lanche e mexer um pouco no facebook. Fiquei conversando com um amigo até às 4h da manhã. Sentia cólica semelhante a da menstruação que duravam uns 40 segundos e vinham de 20 em 20 minutos. Assim que as dores acabaram, voltei a dormir. Ainda não era o TP. No dia seguinte, meu marido me perguntou como estava. Eu não estava sentindo nada, mas sabia que tudo começaria em poucas horas. Queria que ele ficasse comigo, mas também não podia impedi-lo de ir trabalhar. Disse que estava tudo bem e ele foi para o serviço. Eu fui à padaria, tomei café e arrumei a casa sentindo as contrações levinhas e irregulares. Mas quando foi mais ou menos 9h30 da manhã senti uma contração bem forte que me fez ficar de quatro no chão. Liguei para o marido chorando, pedindo para ele vir logo. Mandei mensagem para a Helena, e para a Síntia, a EO  que ia me acompanhar no parto. Na minha cabeça eu entraria em trabalho de parto quando o tampão saísse. Eu já estava sentindo contrações que pareciam de TP e nada do tampão. Mandei mensagem para Helena e a Sintia falando que estava sentindo contrações regulares, mas o tampão ainda não tinha saído. A Helena respondeu dizendo que não era para eu me prender ao tampão e sugeriu que eu tomasse um banho para relaxar . Então esqueci do tampão e  fui para o chuveiro para diminuir a dor e fiquei um pouco na bola de pilates. Durante o banho vieram quatro contrações. No entanto, após o banho, as contrações foram embora e eu comecei a achar que estava exagerando e que talvez fosse alarme falso. A Helena me ligou e eu estava até sem graça, pois parecia que o TP tinha parado. Logo depois a Sintia ligou e eu disse que ia esperar até a hora do almoço para ver o que ia acontecer. Fiquei deitada na cama esperando e as contrações não vinham. Meu marido chegou e eu estava ainda sem saber o que fazer. As cólicas vinham muito espaçadas. Ele fez o almoço, mas eu não consegui comer direito. A Síntia me ligou e eu ainda estava na mesma. Falei que ia esperar mais um pouco. Deitei no sofá e tirei um cochilo.

Quando foi por volta das 14h as contrações voltaram e com muita força. Não era uma simples colicazinha. Era um dor forte no pé da barriga. Começava super forte e depois ia diminuindo. Contorci-me no chão de dor, começando a chorar. Agora a porra tinha ficado séria! Márcio, meu marido, me abraçava, meio sem saber o que fazer. Resovli ir para o quarto ficar um pouco na bola de pilates. O Márcio me segurando, me ajudando a lembrar da respiração. Ele sugeriu começar a contar as contrações. Acho que estava mais ou menos de 15 em 15 minutos. Nesse momento eu vomitei. Não adiantou nada ter comido kkkk Depois disso senti que era a hora de ligar para a equipe, era o TP começando. Pedi para o Márcio ligar para a Helena, a Síntia e para a fotógrafa. Tinha colocado os telefones na porta da geladeira para facilitar. O tempo que se seguiu até a chegada da Sintia pareceu uma eternidade; Helena chegou logo depois. Quando ela chegou eu estava no meio de uma contração, senti um alívio tão grande quando eu a vi!!!  Me passou uma tranquilidade enorme.

A Sintia calculou o tempo das contrações, estavam de 10 em 10 minutos. Ouviu os batimentos fetais e a pressão, estava tudo ok. O jeito era esperar. Helena e o Márcio estavam comigo no quarto, enquanto a Sintia estava na sala. Após um tempinho pedi para medir a dilatação. Durante toda a gravidez eu não tinha feito toque. A Sintia foi muito delicada, me pediu licença e tudo, mas definitivamente toque é horrível!!! Quando a enfermeira disse que eu estava com três para quatro centímetros de dilatação e o colo estava fino, senti uma ponta de desanimo. Ainda ia ficar muitas horas em TP. Mas decidi não pensar mais na dilatação e não fazer mais nenhum toque. Eu ainda não estava em TP ativo, tudo poderia acontecer. A Sintia me aconselhou a tomar um chá. Tomei um chá de erva doce, mas vomitei logo depois. Mais ou menos nessa hora a fotografa chegou. Naquela hora eu não queria foto de jeito nenhum e mandei a fotografa ir embora. Mas ela ficou. Como eu vi que ela não foi embora, ignorei. Ela já estava lá mesmo. Resolvi não pensar em mais nada. Tudo o que eu queria era que meu TP engrenasse.  

Como eu ainda não estava em TP ativo, a enfermeira resolveu ir embora e voltar depois quando eu estivesse na fase ativa. Fiquei algum tempo na cama deitada. Dormia nos intervalos das contrações. O Márcio e a Helena ficaram ao meu lado o tempo inteiro, me abraçando, fazendo massagens e aguentando meus gritos. O mantra do meu TP foi: “Tá doendo”! Sempre que vinha a contração eu dizia isso e dizia no ritmo das contrações, no início alto e depois diminuindo. Realmente as contrações são como uma onda. Começam bem fortes e vão diminuindo aos poucos até acabar. Acho que pior que sentir a dor era saber que ela ia voltar a qualquer momento. Dava um misto de desespero, angústia e ansiedade. Nos intervalos eu estava tão cansada que entrava num estado de semiconsciência, meio acordada, meio dormindo. Nesse momento as contrações pareciam estar espaçadas, mas como não tinha ninguém contado, não dava para saber de quanto tempo eram os intervalos. Ficamos assim até a Helena sugerir que eu fosse para debaixo do chuveiro.

Fiquei um bom tempo debaixo do chuveiro. A sensação da água caindo no pé da barriga dava um alivio, parecia que as contrações diminuíam. Eu não queria sair de lá nunca mais, rsrsrs. Às vezes eu me lembrava da respiração, mas na maioria das vezes em que viam as contrações eu só gritava. Enquanto o Márcio e a Helena faziam massagem e tentavam me confortar. Até que uma hora eu pensei: “Tenho que parar de gritar. Vou relaxar e controlar a respiração para o TP engrenar.” Fiquei calada, de olhos fechados. A contração vinha e eu respirava fundo, tentando não pensar na dor. Nos intervalos eu conversava com o Vladimir. Não lembro o que eu disse. Mas tentava imaginar que eu já estava com a dilatação completa, que eu estava pronta e que ele podia vim. Falava do que eu sentia por ele, do que eu fiz durante a gestação esperando a chegada dele e falei dos planos futuros. Foi um desabafo. Consegui fazer isso durante umas cinco contrações.  Eu escutava a Helena e o Márcio conversando. Eles estavam preocupados com o meu silêncio. Eles tentaram conversar comigo, perguntaram se estava tudo bem e eu só assenti com a cabeça. Então comecei a pensar que aquilo não estava dando certo. Eu estava cansada, não queria mais sentir dor. Abri os olhos e comecei a falar que queria ir para o hospital tomar anestesia. A Helena e o Márcio riram e argumentaram falando que ia dar muito trabalho, que não era isso que eu queria, e que eu estava em casa, era só ficar tranquila que estava tudo indo bem e não sei mais o quê. Eu falava que não estava aguentando mais sentir dor, se eu tomasse anestesia eu ia poder descansar e depois eu voltava pro TP com mais força! Ficava falando com uma vozinha mansa, manhosa. Era tudo papo furado! Eles viram que eu não estava falando sério! Na minha cabeça se eu fosse para o hospital, enquanto estava no carro o TP ia parar, eu ia poder descansar e depois eu voltava a me concentrar no parto. Kkkkkk Nada a ver. Mas à medida que eles foram falando vi que se eu fosse ter anestesia, ia ir para o hospital sentindo dor e o TP duraria mais tempo ainda. Então resolvi deixar pra lá. Eu não queria anestesia mesmo. Nessas horas a gente fala tanta coisa!

As contrações voltaram e eu não consegui mais controlar a respiração. Ficava só gritando. Até que a chave do chuveiro caiu e a água ficou fria. O Márcio foi ligar a chave de volta e aí eu comecei a pensar que já estava há muito tempo debaixo da água. Quantos litros de água já deviam ter ido embora? Quanto nós íamos pagar de conta de água e luz? Kkkkkk Eu não podia ficar a vida inteira debaixo do chuveiro. Aquilo não era parto ativo coisa nenhuma, eu tinha que ficar em pé! Mas cadê a força pra levantar? Precisei de mais umas duas contrações pra criar coragem. Quando levantei também, foi de uma vez. Falei que queria ir pro quarto e saí andando. A Helena atrás com a toalha para me secar. Foi nesse momento que o TP engrenou de verdade.

Fui para o quarto e cravei as mãos na grade do berço. Fiquei em pé. A cada contração eu segurava mais forte na grade. Minhas mãos ficaram dormentes, mas eu não conseguia soltá-las. Nessa hora a Helena fazia uma massagem de apertar os ossos do quadril que eram uma benção. Quase cortavam as contrações. Depois ela revezou com o Márcio nas massagens. O Márcio não fazia igual. Eu pedia para ele colocar mais força nas mãos. Tadinho! Ele cansou rapidinho e logo pediu para trocar com a Helena. Durante todo o tempo que fiquei no quarto a Helena e o Márcio me deram água. Eu não tinha vontade de comer nada. O que me deu forças foi aquela vitaminas de caixinha da Itambé. Tomei o litro todo!!

Quando fui para o quarto a Helena perguntou se eu queria ouvir alguma música. Eu já tinha feito a playlist do parto. Repassei as músicas mentalmente na cabeça e respondi: “Nenhuma”. Kkkk. Tinha colocado tanta coisa no meu plano de parto. Queria incenso, música tal em momento tal e na hora não quis nada. Só depois que vi, pelas fotos, que a Helena tinha acendido um incenso.
Senti frio e me cobriram com o roupão.As contrações foram ficando mais intensas. E eu me rendi. Fazia o que meu corpo pedia. Fiz cocô. Nessa hora não tinha vergonha de nada. O lado animalesco submerge! Eu pensei em tantas coisas. Mergulhei dentro de mim mesma! Quando não aguentei mais ficar em pé, fiquei de cócoras. Sempre segurando na grade do berço. As dores foram aumentando e o mantra mudou dessa vez era: “Vai passar”, sugestão da Helena que tentava me tranquilizar com essas palavras. E ajudou mesmo! Até que me cansei e deitei. Aí as contrações começaram a vir uma atrás da outra sem intervalo. Fiquei desesperada vendo que não estava passando. Foi quando senti alguma coisa descendo pelas minhas pernas e falei: “Tá saindo alguma coisa de dentro da minha vagina.” Kkkkk Era o tampão. Eu já tinha até me esquecido dele. O Márcio limpou com o papel higiênico e me mostrou, dizendo: “Você não queria ver o tampão, olha ele aqui.” E eu respondi; “Já vi um monte na internet”. Até a Helena riu. Mas é que não estava dando conta nem de olhar para o lado!
Como o tampão tinha saído a Helena nos lembrou de ligar para a Sintia. Acho que ela tinha ligado algumas vezes, mas foi só nessa hora que tivemos certeza que eu estava na fase ativa. Ela chegou rápido e fez os procedimentos de costume: medir pressão e ouvir coração.

Depois que o tampão saiu as contrações voltaram a ficar espaçadas e eu sentia uma vontade enooorme de fazer força. Sentia ele se mexendo dentro de mim e fazendo pressão para baixo. Eu já não gritava, urrava!!! Eu sabia que não podia fazer força, mas não conseguia parar. Foi aí que me lembrei da banheira. Pedi para encher a banheira e todo mundo entrou em desespero. Corre pra lá, corre pra cá. A ideia era ligar a mangueira no chuveiro. Mas a mangueira era muito grande e água estava chegando fria na banheira. O jeito era esquentar a panela no fogão. Mas todas as minhas panelas eram pequenas. Iam ficar a vida inteira enchendo a banheira. O Márcio correu na casa da mãe dele para pedir um caldeirão.

Eu fiquei sozinha com a Helena no quarto. Foi a hora que eu achei que não ia mais conseguir. Nessa angústia, abracei a Helena procurando acolhimento. De leoa, virei menina. Nunca vou me esquecer daquele abraço e do olhar de carinho da Helena. É nessas horas que entendemos a importância de uma doula nos acompanhando. Helena foi como uma mãe para mim.

Então as contrações deram um intervalo longo e eu pude pensar com calma. Pela correria eu vi que não ia dar tempo de encher a banheira. Pedi pra largar a banheira para lá e voltei para o chuveiro.
Sentei na banqueta de parto. Eu já estava cansada, as contrações vinham com força! Esperei o Márcio chegar. Ele chegou afobado. O  Chamei para o banheiro expliquei que não queria mais a banheira, mas que estava nervosa. Ele me acalmou e me lembrou da minha visualização de parto. Aí eu consegui relaxar. A Helena sugeriu que eu colocasse a mão para sentir a cabecinha. Coloquei, a vagina estava inchada, mas não consegui sentir a cabeça dele.  Poucos minutos depois veio uma contração e eu senti a cabeça dele descendo. Junto veio um ploc, era a bolsa que tinha estourado. Na hora eu nem percebi que era a bolsa, achei que era só o movimento da cabeça dele pressionando. Quando eu disse: “A cabeça dele tá aqui.” Acho que ninguém acreditou.  Eu tinha acabado de falar que não tinha sentido a cabeça! Nessa hora eu senti o círculo de fogo. E falei: “Nossa o círculo de fogo, é do jeito que falaram mesmo.” Aí todo mundo acreditou. Todo mundo ficou a postos esperando! O Márcio olhou e viu a cabecinha saindo. A Helena perguntou se eu queria ver. Disse que não, apesar de ter dito no plano de parto que queria ver. Mas eu estava tranquila. Não precisava ver, sabia que ele estava vindo. Relaxei. Veio outra contração e senti a cabeça dele saindo direitinho.  O Márcio estava segurando a cabecinha e viu que ele o cordão estava enrolado no pescoço. Eram duas circulares.  Ele ficou um pouco apreensivo. A enfermeira desenrolou o cordão. Logo depois veio outra contração e ele saiu inteiro nas mãos da Sintia e do Márcio que estava ajudando a segurar e veio direto para os meus braços. Foi inacreditável, inexplicável: ele estava ali, nos meus braços!

 Na hora eu pensei que ia rir ou chorar, mas tudo o que eu consegui foi olhar para o Vladimir sem acreditar. Eu estava em choque. Foi tudo tão rápido! E ele era tão lindo. Durante a gestação não tinha feito nenhuma expectativa de como ele seria fisicamente. E quando o vi, o achei a coisa mais linda do mundo! Ele quase não tinha vérnix. Achei o Vladimir tão limpinho, tão durinho, meu príncipe!  A enfermeira olhou a hora: 00:28. Na minha cabeça já deviam ser umas 4h da manhã. Surpreendi-me com o horário.Tinha perdido a noção do tempo quando estava na partolândia. O Vladimir não chorou.  A Sintia massageou as costinhas dele e ele começou a respirar aos pouquinhos. A cor roxa foi saindo, dando lugar ao rosado. Seu apgar foi 9/10.  

Fomos para o quarto.Fiquei com ele no colo, o admirando, conversando com ele até o cordão parar de pulsar. Achei bem chato esperar a placenta sair.  Continuar com as contrações me incomodou muito. Tentamos a amamentação, ele chegou a pegar o seio, mas não mamou. Ele só foi mamar mesmo ás 16h da tarde, desde então não largou mais, rsrsrs. Quando o cordão parou de pulsar o Márcio cortou o cordão e pedi que aplicassem a ocitocina, esperamos uns minutos para fazer efeito e a Sintia foi puxando a placenta devagar. Foi um alívio quando saiu. Guardamos a placenta no freezer e vamos plantá-la junto com um pé de abacate assim que possível. Depois o Vladimir ficou com o pai. Tive laceração e foi preciso fazer a sutura, mas não sei quantos pontos foram. Tomei um banho com a ajuda da Helena e da Sintia e jantei.Minha pressão estava muito baixa. Estava fraca. Comer me ajudou a recuperar as forças. O Vladimir foi avaliado, ele nasceu com 3,345 kg e 49 cm. Todas só foram embora depois de ver que tudo estava bem com a gente. As três foram ótimas!

Nessa noite não consegui dormi direito, pois não conseguia desgrudar os olhos do meu anjinho. Fiquei um tempão pensando no que eu tinha acabado de viver. Quanta emoção. Que momento intenso! Me senti tão mulher, tão forte! Feliz!!! Parir é algo sem explicações! Ter tido um parto sem intervenções na minha casa foi um sonho! Só de pensar que se fosse no hospital meu marido não estaria comigo, eu não ficaria tão à vontade... Sem dúvida, ter o bebê em casa é mais tranquilo e confortável. Não trocaria meu lar por um hospital, por melhor que seja. Não tem comparação! 

Gostaria de agradecer ao Ishtar-BH pelas informações e apoio, a Eliana Cunha pela inspiração; a Letícia Dawahri por ter me ajudado a dizer não ao meu sabotador;  a Helena, minha doula amada,  pelo apoio incondicional; a Sintia pela excelente assistência e a todas meninas da equipe de PD do Sofia Feldman; a Angelita Alves pelas fotos lindas e pelo carinho; e, principalmente, ao meu maridoulo que gestou e pariu junto comigo nosso bebê. Obrigada Deus por te me concedido essa graça!